Lucas Lucas, nascido no Rio de Janeiro (1994), onde reside e trabalha, é artista-pesquisador e designer. Usa som, imagem, etc para manifestar estados de espírito em matéria sentida. Paisagens instantâneas, texturas, ruído, equilíbrio de tensões e espaço. Graduando em Design - Comunicação Visual na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), realiza trabalhos de criação em distintos campos de expressão - artes visuais, fotografia, cinema, moda -, havendo participado de/proposto experiências interventivas e expositivas em diferentes espaços independentes do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte os últimos três anos. site: https://701lucas.cargo.site/
Rodrigo Pinheiro, nascido no Rio de Janeiro (1994), onde reside e trabalha, pesquisa como artista visual desde 2016. Sua prática artística encontra-se às voltas de confabular situações, infiltrando-se em diferentes espaços de convívio e suas dinâmicas. Ora efêmeras, ora intermináveis, estas enredam-se num ato fabulatório, ferramenta performativa e propositiva do trabalho, pondo-se a ficcionar a partir de nossas experiências de tempo redemoinhes no cotidiano telemático e hipermediado. Graduado no curso de Artes Visuais da Escola de Belas Artes - UFRJ (2020), ao longo dos últimos quatro anos, expôs em instituições e espaços independentes no RJ. site: https://cargocollective.com/rodrigolapinheiro
Título:
“— Queria vir aqui.
— No corredor?
— Sim, nesse corredor.
— Mas por que esse corredor?
— É ‘engraçado’…
— Tá, e aí?
— É que sonhei com ele… Não é a primeira vez, e é sempre igual. Não é dia nem noite, a iluminação falha desse mesmo jeito, o som vibra grave no corpo… Nos três sonhos, é você que tá aqui comigo, prestes a entrar. Atravessamos juntes, mas havia uma coisa, uma sensação do outro lado, que ainda não consigo descrever… É isso.
— Então é por isso que me trouxe aqui? Pra descobrir se é verdade?”
artistas: Lucas Lucas e Rodrigo Pinheiro
poética/técnica: situação/instalação/proposta imersiva/ficção
local: corredor suspenso do MAR (acesso no 5º pavimento da Escola do Olhar)
ano: 2021
Decorrente de um diálogo em sonho — tornado título do trabalho —, “— Queria vir aqui (…)” fabula uma situação em curso no corredor suspenso do Museu de Arte do Rio (MAR), que se faz presente para quem o atravessa a partir de uma ocorrência inabitual: algumas de suas luminárias comportam-se levemente intermitentes, ao passo que som insólito reverbera grave no corredor. “— Queria vir aqui (…)”
introduz o corredor como um canal de suspensão espaço-temporal, lapso “entre”, tal qual um pisco, um insight; reitera a suspeita de que, ao se sair do outro lado, algo não há mais de permanecer o mesmo. A ambiência incita imaginar que evento incomum possivelmente se dá nesse espaço; que de algum modo, ali, a alguns km de altura, suspenses entre edificações de diferentes tempos, instauram-se condições propícias para se instabilizarem algumas certezas, de tempo/espaço/ideias/sensações, audibilizarem-se alguns pensamentos, quem sabe tê-los materializados do outro lado dessa passagem. Em tempos em que a necessidade de ir/vir é interceptada pelos riscos e privações da crise sanitária, em que certos reencontros ficam a cargo da sorte irreverente de um sonho, “— Queria vir aqui (…)” enseja alargar poeticamente a experiência de se voltar a cruzar este corredor quando possível, valendo-se das dinâmicas e particularidades do espaço para criar uma ambiência de presença sutil e constante, rearranjando as configurações de iluminação, som, e as ficções de tal passagem. O vídeo aqui apresentado foi realizado no referido corredor em abril de 2021, quando o museu encontrava-se fechado. Na ocasião, o funcionário registrou o funcionamento defectivo das luminárias e som inusitado ressoando na passagem. Para sentir, dê play com fones de ouvido.